TIPOS DE DISSERTAÇÃO 3º ANO

Texto Dissertativo



          A dissertação é um estilo de redação muito solicitado nos vestibulares. No universo dos processos seletivos, essa tipologia textual é requerida por exigir dos candidatos a análise crítica a respeito de algum tema proposto. Esta discussão deve, ainda, ser exposta na estrutura de parágrafos que compõem: introdução, desenvolvimento e conclusão, ou seja, começo, meio e fim. Além disso, a linguagem empregada dever seguir a norma padrão, logo, o uso de gírias, termos pejorativos e coloquialismo não são aceitos. Mas existem maneiras diferentes de se fazer um texto dissertativo? Existem tipos de dissertação? Sim, e você pode optar por: expositiva ou argumentativa. A dissertação expositiva é voltada aos fatos que estão sendo noticiados e discutidos na mídia: televisão, rádio, internet, revistas. Tais acontecimentos são inquestionáveis, uma vez que até mesmo seus pormenores foram divulgados. Logo, um texto dissertativo sobre um assunto popular será apenas a exposição verbal deste, e não propriamente um debate. A dissertação argumentativa diz respeito à reflexão que fazemos sobre o tema. O ponto de vista do autor é declarado e se interage com os fatos abordados, a fim e esclarecê-los e também de convencer o leitor sobre a opinião expressa. Portanto, o escritor tende a usar da persuasão para apresentar a visão crítica dele. Contudo, a linguagem não deve deixar de ser objetiva e o ponto de vista deve ser baseado em evidências concretas e reais dos acontecimentos. Por isso, independente do tipo de dissertação, faça uma exposição clara, coerente dos argumentos, os quais devem ser estruturados de maneira lógica!

Por Sabrina Vilarinho

Graduada em Letras



          Quer fazer uma boa dissertação? Todos desejam ser bem avaliados em suas dissertações, afinal, esse tipo de texto é cobrado na maioria dos processos seletivos, tais como o Enem. Portanto, fique atento quanto às características dessa modalidade textual. Muitos escrevem, escrevem e não procuram saber nem mesmo o básico necessário para se fazer um texto dissertativo.



Então, seja cauteloso quanto ao seguinte em sua dissertação:

a) Verbos: os verbos devem estar em terceira pessoa, ou seja, referindo-se a: ele, ela, eles, elas.



b) Linguagem: é formal, logo, obedece às normas gramaticais. Dessa forma, empregos de expressões coloquiais, ou seja, da oralidade e gírias estão excluídas, tais como: tá boa, o bofe lá, tampá o sol com a peneira, ninguém merece, isso está cheirando mal, sem noção, camarada, etc.

c) Palavras: devem ser usadas no seu sentido denotativo, literal, ou melhor, no que consta no dicionário. Deixe o sentido figurado para as poesias e outros tipos de textos.



d) Expressões: é comum lermos: eu acho, na minha opinião, de acordo com que penso a esse respeito, em redações dissertativas. No entanto, essas colocações são redundantes, pois é um texto que mostra o ponto de vista do autor em relação a um fato. Então, é redundante usar tais expressões, mesmo porque deve-se manter a terceira pessoa do discurso.



e) Períodos: devem ser objetivos e claros. De preferência, mais breves, pois períodos muito longos geram confusão. Aproveite e verifique se a pontuação está correta: se o ponto final está presente em cada ideia finalizada! Estará errada se as orações estiverem emendadas por vírgulas, ocasionando o período longo e confuso.



f) Estrutura: observe aqui a paragrafação, ou seja, a divisão por parágrafos e também se há introdução, desenvolvimento e uma boa conclusão. Muitas vezes, esta última parte é esquecida!



          Por último observe se sua dissertação tem o mínimo de 15 linhas escritas e o máximo de 35 (tamanho exigido na maioria dos processos seletivos, principalmente no ENEM).

          Se você seguir esses critérios básicos e suficientes da dissertação, então, com certeza, terá uma ótima avaliação!

          A todo instante nos deparamos com situações que exigem a exposição de idéias, argumentos e pontos de vista, muitas vezes precisamos expor aquilo que pensamos sobre determinado assunto.

          Em muitas situações somos induzidos a organizar nossos pensamentos e idéias e utilizar a linguagem para dissertar.

Mas o que é dissertar?

          Dissertar é, através da organização de palavras, frases e textos, apresentar idéias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pensamos através da fundamentação, justificação, explicação, persuasão e de provas.

          A elaboração de textos dissertativos requer domínio da modalidade escrita da língua, desde a questão ortográfica ao uso de um vocabulário preciso e de construções sintáticas organizadas, além de conhecimento do assunto que se vai abordar e posição crítica (pessoal) diante desse assunto.

          A atividade dissertadora desenvolve o gosto de pensar e escrever o que pensa, de questionar o mundo, de procurar entender e transformar a realidade.

Passos para escrever o texto dissertativo

O texto deve ser produzido de forma a satisfazer os objetivos que o escritor se propôs a alcançar.

Há uma estrutura consagrada para a organização desse tipo de texto.

Consiste em organizar o material obtido em três partes: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.



- Introdução: A introdução deve apresentar de maneira clara o assunto que será tratado e delimitar as questões, referentes ao assunto, que serão abordadas.

Neste momento pode-se formular uma tese, que deverá ser discutida e provada no texto, propor uma pergunta, cuja resposta deverá constar no desenvolvimento e explicitada na conclusão.



- Desenvolvimento: É a parte do texto em que as idéias, pontos de vista, conceitos, informações de que dispõe serão desenvolvidas; desenroladas e avaliadas progressivamente.



- Conclusão: É o momento final do texto, este deverá apresentar um resumo forte de tudo o que já foi dito. A conclusão deve expor uma avaliação final do assunto discutido.



          Cada uma dessa partes se relaciona umas com as outras, seja preparando-as ou retomando-as, portanto, não são isoladas.

          A produção de textos dissertativos está ligada à capacidade argumentativa daquele que se dispõe a essa construção.

          É importante destacar que a obtenção de informações, referentes aos diversos assuntos seja através da leitura, de conversas, de viagens, de experiências do dia-a-dia e dos mais variados veículos de informação podem sanar a carência de informações e conseqüentemente darem suporte ao produzir um texto.

Por Marina Cabral

Especialista em Língua Portuguesa e Literatura

Equipe Brasil Escola

Conceitos e Noções Gerais de Dissertação

Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como objetivo expor, explicar ou interpretar idéias; a segunda procura persuadir o leitor ou ouvinte de que determinada tese deve ser acatada. Na dissertação argumentativa, além disso, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi-lo de que a razão está conosco.

Na dissertação expositiva, podemos explanar sem combater idéias de que discordamos. Por exemplo, um professor de História pode fazer uma explicação sobre os modos de produção, aparentando impessoalidade, sem tentar convencer seus alunos das vantagens das vantagens e desvantagens deles. Mas, se ao contrário, ele fizer uma explanação com o propósito claro de formar opinião dos seus alunos, mostrando as inconveniências de determinado sistema e valorizando um outro, esse professor estará argumentando explicitamente.

Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate-boca”estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumentos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos-exemplos, os dados estatísticos e o testemunho.

Como fazer uma dissertação argumentativa

Como fazer nossas dissertações? Como expor com clareza nosso ponto de vista? Como argumentar coerentemente e validamente? Como organizar a estrutura lógica de nosso texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão?

Vamos supor que o tema proposta seja Nenhum homem é uma ilha.

Primeiro, precisamos entender o tema. Ilha, naturalmente, está em sentido figurado, significando solidão, isolamento.

Vamos sugerir alguns passos para a elaboração do rascunho de sua redação.

1. Transforme o tema em uma pergunta:

Nenhum homem é uma ilha?

2. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda, concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu pon-to de vista.

3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua posição: aí estará o seu argumento principal.

4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua posição. Estes serão argumentos auxiliares.

5.Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato-exemplo pode vir de sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo, geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele dá uma marca pessoal à dissertação.

6. A partir desses elementos, procure juntá-los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você pode agrupá-los na seqüência que foi sugerida:

Os passos

1) interrogar o tema;

2) responder, com a opinião

3) apresentar argumento básico

4) apresentar argumentos auxiliares

5) apresentar fato- exemplo

6) concluir

(in Novo Manual da Nova Cultural - Redação, Gramática, Literatura e Interpretação de Textos, de Emília Amaral e outros)

Como ficaria o esquema

1º parágrafo: a tese

2º parágrafo: argumento 1

3º parágrafo: argumento 2

4º parágrafo: fato-exemplo

5º parágrafo: conclusão

Exemplo de redação com esse esquema:

Tema: Como encarar a questão do erro

Título: Buscar o sucesso

Tese

1º§ O homem nunca pôde conhecer acer-tos sem lidar com seus erros.

Argumentação

2º§ O erro pressupõe a falta de conheci-mento ou experiência, a deficiência de sintonia entre o que se propõe a fazer e os meios para a realização do ato. Deriva-se de inúmeras causas, que incluem tanto a falta de informação, como a inabilidade em lidar com elas.

3º§ Já acertar, obter sucesso, constitui-se na exata coordenação entre informação e execu-ção de qualquer atividade. É o alinhamento preci-so entre o que fazer e como fazer, sendo esses dois pontos indispensáveis e inseparáveis.

Fato-exemplo

4º§ Como atingir o acento? A experiência é fundamental e, na maior das vezes, é alicerçada em erros anteriores, que ensinarão os caminhos para que cada experiência ruim não mais ocorra. Assim, um jovem que presta seu primeiro vesti-bular e fracassa pode, a partir do erro, descobrir seus pontos falhos e, aos poucos, aliar seus co-nhecimentos à capacidade de enfrentar uma situa-ção de nova prova e pressão. Esse mesmo jovem, no mercado de trabalho, poderá estar envolvido em situações semelhantes: seus momentos de fracasso estimularão sua criatividade e maior em-penho, o que fatalmente levará a posteriores acertos fundamentais em seu trabalho.

Conclusão

5º§ Assim, o aparecimento dos erros nos atos humanos é inevitável. Porém, é preciso, aci-ma de tudo, saber lidar com eles, conscientizar-se de cada ato falho e tomá-los como desafio, nunca se conformando, sempre buscando a superação e o sucesso. Antes do alcance da luz, será sempre preciso percorrer o túnel.

(Redação de aluno.)

Esquema da antítese

Como incluir a contra-argumentação numa dissertação argumentativa

A dissertação argumentativa começa com a proposição clara e sucinta da idéia que irá ser comprovada, a TESE. A essa primeira parte do texto dissertativo chamamos de introdução.

A segunda parte, chamada desenvolvimento, visa à apresentação dos argumentos que comprovem a tese, ou seja, a PROVA. É costume estruturar a argumentação em ordem crescente de importância, como foi explicado no início desta lição, a fim de prender cada vez mais a atenção do leitor às razões apresentadas. Essas razões baseiam-se em provas demonstráveis através dos fatos-exemplo, dados estatísticos e testemunhos.

Na dissertação argumentativa mais formal, o desen-volvimento apresenta uma subdivisão, a ANTÍTESE, na qual se refutam possíveis contra-argumentos que possam contrariar a tese ou as provas. Nessa parte, a ordem de importância inverte-se, colocando-se, em primeiro lugar, a refutação do contra-argumento mais forte e, por último, do mais fraco, com o propósito de se depreciarem as idéias contrárias e ir-se, aos pontos, refutando a tese adversa,ao mesmo tempo em que se afasta o leitor ou ouvinte dos contra-argumentos mais poderosos.

Na última parte, a conclusão, enumeraram-se os argumentos e conclui-se, reproduzindo as tese, isto é, faz-se uma SÍNTESE. Além de fazer uma síntese das idéias discu-tidas, pode-se propor, na conclusão, uma solução para o problema discutido.

Esquema de uma dissertação com antítese

Tema: Vestibular, um mal necessário.

Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente.

Prova: Os candidatos que estudaram em escolas com infra-estrutura deficiente, com as escolas públicas do Brasil, por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles que freqüentaram bons colégios.

Antítese: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, o problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior.

Conclusão (síntese´): As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras responsáveis pela seleção dos candidatos mais ricos.

Relação entre causa e conseqüência

Você possui um tema para ser analisado. Neste caso, a melhor forma de desenvolvê-la é estabelecer a relação causa-

conseqüência. Vamos à prática com o seguinte tema:

Tema

Constatamos que no Brasil existe um grande número de correntes migratórias que se deslocam do campo para as médias ou grandes cidades.

Para encontrarmos uma causa, perguntamos:

Por quê?

ao tema acima. Dentre as respostas possíveis, poderíamos citar o seguinte fato:

Causa:

A zona rural apresenta inúmeros problemas que dificultam a permanência do homem no campo.

No sentido de encontrar uma conseqüência para o problema enfocado no tema acima, cabe a seguinte pergunta:

O que acontece em razão disso?

Uma das possíveis respostas seria:

Conseqüência

As cidades encontram-se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de trabalho

Veja que a causa e a conseqüência citadas neste exemplo podem ser perfeitamente substituídas por outras, encontradas por você, desde que tenham relação direta com o assunto. As sugestões apresentadas de maneira nenhuma são as únicas possíveis.

Veja outros exemplos:

Causa: As pessoas mais velhas têm medo do novo, elas são mais conservadoras, até em assuntos mais prosaicos.

Tema: Muitas pessoas são analfabetas eletrônicas, pois não conseguem operar nem um videocassete.

Conseqüência: Elas se tornam desajustadas, pois dependem dos mais jovens até para ligar um forno microondas, elas precisam acompanhar a evolução do mundo.

Causa: A nação que deixa depredar as construções

consideradas como patrimônios históricos destrói parte da História de seu país.

Tema: É de fundamental importância a preservação das construções que se constituem em patrimônios históricos.

Conseqüência: Isso demonstra claramente o subdesenvolvimento de uma nação, pois quando não se conhece o passado de um povo e não se valorizam suas tradições, estamos desprezando a herança cultural deixada por nossos antepassados.

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Causa: A maioria dos parlamentares preocupa-se muito mais com a discussão dos mecanismos que os fazem chegar ao poder do que com os problemas reais da população.

Tema: A maior parte da classe política não goza de muito prestígio e confiabilidade por parte da população.

Conseqüência: Os grandes problemas que afligem o povo brasileiro deixam de ser convenientemente discutidos.

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Causa: Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.

Tema: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez mais em nossa sociedade.

Conseqüência: Acabam formando-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.

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Exercícios

Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma conseqüência para cada um deles. Escreva-as, seguindo o modelo apresentado acima:

1 Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita eficiência no atendimento a seus usuários.

Causa:

Conseqüência:

2 A convivência familiar está muito difícil.

causa:

Conseqüência:

3 As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da maioria dos telespectadores.

Causa:

Conseqüência:

4 As doenças infecto-contagiosas atingem particularmente as camadas mais carentes da população.

Causa:

Conseqüências:

5 Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam utilizando produtos agrotóxicos indiscriminadamente.

Causa:

Conseqüência:

Esquema de redação com causa-conseqüência

Título

Introdução (o problema):

1º parágrafo: Apresentação do tema (com ligeira ampliação).

Desenvolvimento:

2º parágrafo - Causa (explicações adicionais)

3º parágrafo - Conseqüência (com explicações adicionais)

Conclusão(a solução):

4º § - Expressão inicial + reafirmação do tema + observação final

Proposta de redação

Escolha um dos temas apresentados nesta folha e redija um texto em quatro parágrafos, conforme o esquema desenhado acima. Não se esqueça de aplicar a relação causa-conseqüência.

(Do livro Técnicas Básicas de Redação, Branca Granatic, Editora Scipione)

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Outro esquema interessante:

O texto Aquilo por que vivi, de Bertrand Russel, revela uma estrutura que o vestibulando poderá usar em sua redação. Leia o texto:

Aquilo por que vivi

Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.

Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que – afinal – encontrei.

Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.

Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por avaliar o mal, mas não posso, e também sofro.

Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.

(Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.)

O texto, cujo tema está explícito no título – os motivos fundamentais da vida do autor – apresenta cinco parágrafos.

No primeiro parágrafo, o autor revela as suas “três paixões”:

a) amor;

b) conhecimento;

c) piedade.

Em seguida, dedica três parágrafos para cada uma dessas paixões. O segundo parágrafo fala sobre a busca do amor; terceiro, sobre a procura do conhecimento; e o quarto, sobre a importância do sentimento piedade diante do sofrimento.

O quinto e último parágrafo realiza a conclusão do texto.

Eis o esquema:

1º§ - a, b, c;

2º§ - a;

3º§ - b;

4º§ - c;

5º§ - a, b, c.

(in Novas Palavras, de Emília Amaral e outros, editora FTD-1997)

Observar a estrutura dos textos dissertativos é um bom momento de aprendizagem. Recomenda-se tal exercício aos vestibulandos: ler editoriais e artigos de jornais.

Proposta de redação

A TV brasileira completa 50 anos. No início, houve quem considerasse o televisor mais um eletrodoméstico na casa. Hoje, sabe-se que ele não é só isso, a televisão é um modo de vida.

Redija um texto dissertativo, em prosa, com 30 linhas, analisando se a TV brasileira FORMA, INFORMA ou DEFORMA. Use o esquema acima.